Quatro em cada dez currículos contém informações falsas, exageradas ou omitidas.
Será que vale a pena?
Será que vale a pena?
"A verdade é bela, sem dúvida, mas a mentira também", escreveu, certa vez, o ensaísta americano do século 19, Ralph Waldo Emerson. Na competitividade da vida moderna é cada vez mais difícil não lançar mão das belas artimanhas da autopromoção para destacar-se. Vale de tudo, até mesmo falsificar informações no currículo, idealizando ou exagerando competências. A prática se tornou tão comum que já tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei para torná-la crime sujeito a pena de detenção. No ano passado, até a candidata à presidência da República Dilma Roussef foi acusada de inflar o documento com títulos que não possui.
"Em média, 40% dos currículos trazem algum tipo de informação inverídica", diz Vander Giordano, diretor executivo da Kroll, empresa que atua há 40 anos na área de consultoria em gerenciamento de risco. Em um ano, a demanda da empresa pelo chamado "background check" - um serviço de levantamento dos antecedentes escolares, profissionais e até criminais do candidato - aumentou cerca de 25%.
"Não importa quão inocente possa parecer, a mentira desfaz a credibilidade do candidato e pode gerar até um colapso permanente da confiança", afirma a consultora Juliana Nunes, da Asap. Para evitar constrangimentos ou até, quem sabe, um processo criminal no futuro, o melhor é manter o pé na realidade e optar pela honestidade, sempre. A seguir, saiba quais são as cinco mentiras mais contadas nos currículos, e cuide para manter-se longe delas.
1 - Idiomas: É a mentira mais popular e também a mais fácil de ser identificada. Um simples teste ou uma conversa com o recrutador são suficientes para checar a proficiência no idioma. Trata-se daquele inglês "básico" que no currículo aparece como "avançado". Segundo Juliana, nem sempre o candidato age de má fé. "O problema é de percepção. A pessoa acha que domina a língua mas, na prática, tá enferrujada", diz. Portanto, cuidado ao colocar no currículo que você é fluente numa língua. Procure explicar esse grau de fluência, caracterizando separadamente as habilidades de "fala", "escrita" e "leitura".
2 - Motivo de saída da empresa: Demissões não costumam ser bem vistas. Mas isso não é motivo para transformar uma dispensa individual em uma demissão em massa ou extinção de setor. "É comum os candidatos afirmarem que foram mandados embora porque a empresa onde trabalhavam passou por uma reestruturação ou que o setor onde atuavam foi extinto", diz Giordano. Se percebida, a mentira sobre os motivos da saída de empregos anteriores pode passar a impressão de que o candidato quer esconder algo.
Para evitar que um possível erro do passado influencie na conquista do novo emprego, o especialista recomenda uma saída ética: "Limite-se a dizer que não estava sendo bom nem para você nem para a empresa". Caso você não tenha se adequado bem ao trabalho anterior, não se preocupe. Em geral, problemas de adaptação cultural são justificativas legítimas para desligamento.
3 - Exagerar responsabilidades e salários: Aqui, um projeto realizado em equipe pode virar um triunfo pessoal no currículo. Exageros de competência acontecem aos montes, porém, nem sempre se sustentam. Principalmente, se recrutador pedir para o candidato especificar suas atribuições e as dos demais envolvidos no projeto. Para responder, o candidato precisa recriar e distorcer toda a história, e no meio do caminho..."Eles sempre se enrolam, não conseguem dar informações especificas sobre o seu papel, nem os dos outros participantes", conta Juliana.
Outro tiro no pé, segundo a consultora, é a artimanha de aumentar o salário do emprego anterior para tentar cifras maiores na nova oportunidade. "Isso pode ser tornar um entrave à contratação", alerta Juliana. "A empresa nem sempre tem condições de cobrir o salário anterior".
4 - Tempo de trabalho: O tempo que se dedicou à empresa também costuma ser mudado ou omitido pelos candidatos. Seja porque a pessoa ficou pouco tempo naquela posição e teme ser vista como instável ou com nível de empregabilidade baixo, seja porque a empresa é mal vista no mercado. Em qualquer caso, vale dizer a verdade no currículo e explicar os motivos durante a entrevista.
Para quem tem vergonha de dizer que estava desempregado esticar em alguns meses a permanência no emprego anterior pode ser até aceito pelo selecionador. Do contrário, desista de tentar manipular datas. "Aqui, a mentira tem perna curta mesmo, sendo facilmente constatada pelos checadores ao ligar para empresas ou observar a carteira de trabalho", diz Giordano.
5- Formação: Não minta sob qualquer hipótese sobre sua formação. Além de ser um critério bem objetivo, você pode simplesmente não conseguir executar uma função pela falta das competências. Bom senso não faz mal a ninguém. Um curso de artes no exterior para turistas, por exemplo, não é o mesmo que uma pós-graduação internacional. Assim como um MBA pela metade não representa um MBA completo. Seja honesto e inteligente. Afinal, qualquer exigência de certificado é suficiente para desmascarar a mentira.
Vanessa Barbosa, de EXAME.com
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