“Eu vejo o
futuro repetir o passado/Eu vejo um museu de grandes novidades/O tempo não
para”
(“O Tempo Não Para”, Cazuza e Arnaldo Brandão)
Já estamos em abril, o mês que começou com o Dia da
Mentira, costume que se iniciou em
1564 na França, onde seu nome é “Poisson davril” (Bobo de Abril) e se espalhou
pelo mundo. Mas, apesar do dito popular
que a mentira tem pernas curtas, não é só neste dia que mentimos. Ninguém gosta
de admitir a dura verdade: pelos mais diversos motivos e justificativas, todos
mentem desde que o mundo é mundo.
Neste momento, a mentira do dia primeiro parece
ressoar sobre todas as ideias, objetivos e compromissos do final do ano
anterior, que juramos “de pés juntos” que em 2015 iríamos realizar. Aquela
situação da qual precisamos nos desfazer, aquela conversa que temos de
enfrentar, aquela grana que necessitamos poupar, os livros para ler... E tudo
isso começa a soar como mentiras que contamos para nós mesmos, seguidas de um
imenso desconforto.
Muitas vezes vivi esta sensação em meses de abril.
Sempre fui muito intenso em tudo a que me propus a fazer e quando via que não
conseguiria realizar 100% do que havia planejado, era para mim uma imensa
sensação de derrota. O que aprendi quando soprei minha quinta velinha do bolo
(no sistema decimal), é que uma das coisas que prejudicava minha vida era
exatamente o desânimo que vinha após estas constatações. E só aí entendi que
este momento é crucial para ajustarmos a rota e retomarmos o rumo, sob pena de
não conseguirmos mais encontrar o caminho certo ao longo do ano.
Penso que muitos dos problemas com nossos planos
começam porque sabemos que, em maior ou menor intensidade, por toda a vida lançamos mão de mentiras que
nos foram muito úteis em nossa infância. Quando pequenos, a mentira facilita
nossas vidas, ao fazermos dela uma espécie de varinha mágica, com a qual conseguíamos
tornar realidade algo que desejávamos muito. Chegávamos mesmo a acreditar que as
coisas se resolveriam sozinhas. Mas, de alguma forma, isso acabou sendo parte
de nosso desenvolvimento psíquico e continuamos lançando mão deste recurso,
trazendo esse mundo da fantasia para a vida adulta. E, por termos consciência
disso, poderemos ser levados a acreditar que “aqueles’ planos eram só algumas
mentiras.
Agora, em abril, isso salta mais aos olhos. É quando
realmente o ano “engata”, pois janeiro e fevereiro foram os meses onde “depois
do carnaval eu penso nisso” e março foi um mês complacente, que nos permitiu retomar nosso ritmo de maneira
lenta e ainda sermos extremamente otimistas, afinal o ano “estava só começando”.
Porém, é também a melhor época do ano para verificarmos o quanto não estamos
muito atentos a rota que traçamos quando planejamos o que iríamos fazer e
conquistar em 2015.
Assim, em diversas oportunidades, o ótimo (100%) pode
sim ser inimigo do bom (70%, 80%). Como disse Edmund Burke: “Ninguém comete
erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco”. E esta
consciência abriu uma série de oportunidades para mim, porque entendi que
planos foram feitos para serem ajustados de acordo com as condições que
encontramos ao implementa-los.
Então, esta na hora de vermos que talvez não vai dar
para nos matricularmos na academia, mas seguramente é possível subir devagar as
escadas do edifício onde trabalhamos. Podemos também conhecer a academia do
prédio e dar uma caminhada de 30 minutos na esteira. Da mesma forma acontece no
campo profissional: Talvez não dê para implantar uma profunda modificação em
2015 (que será um ano difícil), mas poderemos ter uma conversa com aquele
funcionário (que em janeiro dissemos que teríamos), revermos aquela despesa que
é necessário cortar ou buscarmos alternativas e substituirmos aquele fornecedor
cujo trabalho não nos satisfaz mais.
Sou testemunha que, muitas vezes, estes pequenos
passos (“Baby Steps”) tornam-se na verdade passos gigantes, e têm me levado a
alcançar resultados muito superiores aos que eu tive, quando ficava aguardando “o
momento certo” para dar uma passo maior, o que normalmente não acontecia. Se
verificamos agora em abril que talvez não dê para caminharmos à passos largos
na direção que queremos, podemos nos colocar em movimento para dar pequenos
passos.
Fica aqui então esta dica: não deixe abril acabar sem
que você dê ao menos alguns pequenos passos na direção que acredita que sua
vida deva caminhar. Em pouco tempo, você vai ver que eles seguramente farão uma
grande diferença ao longo do ano.
Jorge Pontual