Pressionadas pela crise internacional e
pelos fracos resultados da economia brasileira, diversas empresas vêm
anunciando cortes ou reestruturações. Nos últimos meses, funcionários de
grandes empresas, como IBM, TAM, Itaú, Santander, passaram por demissões,
experiência que pode desestruturar todos os planos financeiros de uma família.
Gastos mensais precisam ser revistos e planos de
cursos, viagens, troca de carro, aquisição ou quitação de um imóvel são
deixados em segundo plano. "Poucos profissionais pensam na possibilidade
da demissão ou fazem reservas financeiras para o caso de isso acontecer",
afirma o educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, de
São Paulo.
Mas a mais nova pesquisa Práticas de Demissões de
Executivos, da consultoria Lens & Minarelli, divulgada em setembro, mostra
que os profissionais deveriam considerar
com maior atenção o risco de uma demissão. Os números mostram que a
rotatividade só está aumentando.
Um dos sinais disso, por exemplo, é o aumento da
proporção de executivos que já amargaram mais de um corte. "Em 2010, eles
eram 44%. Em 2012, 52% deles já estavam passando por sua segunda
demissão", comenta Mariá Giuliese, diretora executiva da consultoria.
O estudo também identificou a redução do pacote de
benefícios pós-demissão. Em 2005, 70% das empresas davam gratificações em
dinheiro aos demitidos. No ano passado, apenas 25% das companhias fizeram isso.
"A concessão de benefícios está cada vez mais limitada ao que a lei
determina, por isso, mais do que nunca é preciso se preparar", aconselha
Mariá.
Foi justamente por não imaginar que a demissão um
dia bateria à sua porta, que o executivo Maurício Oliveira, de 28 anos, jamais
se preocupou em guardar dinheiro para essa finalidade. O carioca, que vive em
São Paulo desde 2007, recebeu no começo do ano um convite para mudar de emprego
e ocupar um cargo de consultor sênior em outra companhia.
Três meses depois, a empresa não quis manter o
contrato e Maurício ficou sem emprego. Como não tinha nenhuma reserva, ele teve
de colocar o carro à venda e sua mulher,
Taiana Melo, cancelou a matrícula no MBA que começaria. "Todo o nosso
planejamento era com base naquele emprego, e não deu tempo sequer de
começar", diz.
Por sorte, contrariando as estatísticas que indicam
o prazo médio de seis meses para se recolocar, Maurício conseguiu um novo
trabalho em apenas um mês e foi contratado pela multinacional Oberthur
Technologies para um cargo de média gerência. Da demissão, ele tirou como lição
a necessidade de fazer uma poupança para momentos emergenciais como esse.
"Minha mentalidade mudou. Desta vez, eu e minha esposa nos propusemos a
guardar 30% de nossa renda por quatro meses, caso um dos dois fique fora do
mercado", revela.
Reserva anual
Segundo Mauro Calil, a proteção composta de fundo
de Garantia do Tempo de serviço (FGTS) e seguro-desemprego não costuma ser
suficiente para manter o padrão de vida dos executivos. Por isso, ficar
desempregado pode impactar fortemente a rotina da família. "Recomendo
fazer um colchão financeiro em renda fixa,
que cubra o mínimo de 12 meses de suas despesas. se o seu gasto anual é
de 60.000 reais, você terá de ter essa quantia em renda fixa", explica.
Como é impossível somar esses recursos de uma hora
para a outra, planejamento e assiduidade são fundamentais. "No primeiro
mês, reserve 1% dos vencimentos, no segundo mês, 2%, no terceiro, 3% e assim
por diante, até que tenha o hábito de salvar ao menos 10% mensalmente",
diz. Bônus, 13º salário e participação
nos lucros (PLR) devem entrar nessa poupança.
Foco para não errar
Foi por ter um grande controle financeiro que a
advogada Elisabeth Eusébio de Moraes, de 33 anos, de São Paulo, conseguiu
manter-se serena após um inesperado desligamento da empresa de siderurgia em
que trabalhava havia cinco anos como advogada sênior. "Na primeira semana
foi terrível. Eu ficava me perguntando o que tinha feito de errado",
lembra.
Mas como tinha reservas suficientes para cobrir
suas despesas por um ano, Elisabeth teve tranquilidade para realizar cursos que
lhe devolveram a autoconfiança. Após quatro meses de busca, a advogada foi
contratada pela FMC, empresa da área química, como consultora jurídica de
negócios no Brasil e na América Latina. "Fez diferença ter segurança e
encarar o desemprego como uma situação temporária", diz.
Para Daniel Cunha, sócio-diretor da Exec,
consultoria de desenvolvimento, por maior que seja a ansiedade nessa fase, não
se deve aceitar cargos sem relação com seu projeto de carreira ou com
remuneração inferior. Isso porque a tendência é que a pessoa continue buscando
outra posição, comprometendo seu desempenho na nova função.
A boa
notícia é que, para alguns especialistas, não devem acontecer mais demissões de
larga escala neste fim de ano ou no começo de 2014.
Para Wilson Amorim, professor da Fundação Instituto
de Administração (FIA), o momento não é de crescimento, mas tampouco devem
ocorrer grandes cortes. "Não é hora
de expansão de negócios, mas de manutenção", avalia. Mesmo diante de um
cenário mais otimista, vale a pena manter a moderação e incorporar as lições de
planejamento.
*Karina Fusco, da Você S/A.